domingo, 14 de junho de 2009

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO



TEXTO SÍNTESE "OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO"
(Edgar Morin)



CAPÍTULO I: AS CEGUEIRAS DO CONHECIMENTO: O ERRO E A ILUSÃO


Segundo Morin, a educação, de um modo geral, ainda está pautada no modelo de transmissão de conhecimentos que pressupõe a infalibilidade desses conhecimentos. Ele observa que, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, na verdade, o conhecimento. Sob essa ótica o erro é pouco aceito e se torna uma espécie de ameaça à estabilidade dos conceitos. No entanto, sabemos que todo o conhecimento é colocado em xeque pela construção diária do saber.
Nós, seres racionais, vivemos construindo, reconstruindo e desconstruindo o conhecimento. Modificamo-nos através dele, principalmente por nos utilizarmos do afeto como forma de expressão que se vincula ao saber. A certeza de ontem, pode ser a dúvida de hoje. O que configura o "erro" como um processo de aprendizado.
A ilusão sobre o conhecimento também é apontada pelo autor quando ele pressupõe que o conhecimento e seus mecanismos humanos são propostos para "enfrentar os riscos permanentes do erro e da ilusão" os quais "parasitam" a mente humana. Subestimar o problema do erro e da ilusão constitui-se em um maior erro e na maior ilusão.
Diante disso, não podemos ficar à margem do receio, que se revela ameaçado pelo erro e pela ilusão. O conhecimento “é o fruto de uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte, está sujeito ao erro”.


1. O calcanhar de Aquiles do conhecimento: O autor, a partir dessa metáfora, expõe as fragilidades dos processos através dos quais se faz a construção do conhecimento humano que é em todo o tempo ameaçado pelo erro e pela ilusão: os ruídos, ou seja, quaisquer eventos que possam prejudicar a transmissão da informação, seja qual for o canal utilizado para que seja transmitida; som e imagem; a tradução que cada um faz individualmente dos estímulos que recebe; a transmissão através da fala, que é uma representação de um fato e não o fato em si, e, por fim, a questão da afetividade, que pode interferir no processo de apreensão do conhecimento, seja de uma forma positiva ou negativa, "estimulando-o" ou "asfixiando-o", respectivamente. Dessa maneira, a educação deve-se dedicar à identificação da origem de erros, ilusões e cegueiras.


1.1 Os erros mentais: São considerados erros mentais, a presença do "eu", do indivíduo na formação da concepção do mundo exterior. Cada mente tem suas particularidades e dispositivos para a seleção que servem para o indivíduo formar a sua realidade, a partir das informações selecionadas, criando verdades particulares, selecionando as lembranças, de acordo com a narrativa de vida que pretende criar.
Essas variantes decorrem da dificuldade de diferenciar de forma precisa, o real do imaginário, a prevalência do mundo interior em detrimento do exterior, o mecanismo de "self deception", que cria uma realidade paralela como forma de autojustificativa e a memória que apresenta um processo de seleção ou criação de fatos. Aliás, a mente preserva recordações e, até mesmo pseudo-lembranças, de acordo com a sua conveniência, posto que isso promove o erro e as ilusões, os quais criam o caos sobre as reais verdades.


1.2 Os erros intelectuais: Os erros intelectuais são aqueles que estão relacionados à organização das idéias. O indivíduo resiste às idéias que façam oposição ao seu corpus ideológico. Inconscientemente seleciona lembranças que lhe convém.
1.3 Os erros da razão: Segundo o autor, "A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão". Há dois tipos de racionalidade; a construtiva, que deve estar aberta ao que questiona, e a crítica, esta deve ser centrada em observar criticamente os erros e ilusões das crenças, doutrinas e teorias.


Dentro da racionalidade, pode haver também o espaço do erro e da ilusão, quando se "perverte" em racionalização, que é fechada em si própria, por se supor incontestável. A racionalidade é aberta e flexível.


1.4 As cegueiras paradigmáticas: Um paradigma pode ser estabelecido através de um "conceito mestre de inteligibilidade", ou seja, a idéia a partir da qual todas as "operações lógicas-mestras" se articulam na formação do paradigma. Essas operações funcionam como mecanismos de: exclusão-inclusão, disjunção-conjunção, implicação-negação.
Pode-se entender que um indivíduo, ao estabelecer contato com o mundo, o faz através dos paradigmas já internalizados. Um paradigma pode tanto "elucidar", instigar a busca por experimentações, a práticas, quanto "cegar", isto é, não deixar o indivíduo ver além de tal paradigma. Muitos desses paradigmas nos permitem ter uma visão dupla de mundo, um conhecimento fragmentado, separando mente do corpo, o que privilegia o pensamento racional, o conhecimento científico, em detrimento de outros não menos importantes, como o pensamento intuitivo.


2. O imprinting e a normalização: A obediência incontestável aos paradigmas pode promover uma acomodação que anula todo o poder de contestação, de forma que as pessoas deixem de exercer o direito de contestar e até a habilidade e fazê-lo. A esse processo, Morin chama de "conformismo cognitivo", que é pior que o conformismo. O termo "imprinting cultural", criado por Konrad Lorenz, explica como esse tipo de conformismo pernicioso ganha raízes nos indivíduos, impossibilitando-os de reagir diante dos fatos contra os quais deveriam reagir. Essa impossibilidade gerada culturalmente é a normalização, ou seja, a aceitação inconteste das situações. Nesta situação cabe ao homem seguir a verdade, fugindo do conformismo, incansavelmente.


3. A noologia: possessão: Noologia é o estudo da esfera das coisas do espírito. Segundo Morin, o homem, desde os primórdios tem sido dominado pelos mitos ligados a deuses e seres espirituais. A noosfera, um produto da junção alma-mente, é vinculada ao ser humano. A esse universo está ligado o mundo das idéias, que podem tornar-se consistentes e reais.
Usando as palavras de Morin "As sociedades domesticam os indivíduos por meio de mitos e idéias, mas os indivíduos poderiam, reciprocamente, domesticar as idéias, ao mesmo tempo em que poderiam controlar a sociedade que os controla." Esse excerto é um convite à racionalidade, à análise dos mecanismos de controle social e humano, que pode conferir ao ser humano uma posição mais ativa perante a sociedade, descartando conceitos infundados e não se tornando escravos das idéias, mas interagindo criticamente em relação a elas.É necessário segundo o autor que as idéias sejam domesticadas e relativizadas, para que tenhamos a idealidade e não o idealismo.


4. O inesperado: O fator inesperado é uma constante na vida do homem, mas devido ao apego que temos em relação às nossas crenças e idéias nos torna incapazes de lidar com situações diferentes, que nos desestruturam, justamente por termos paradigmas inflexíveis que não se moldam, mas se quebram. Sair da rotina é motivo de pânico, visto que o novo é sempre a causa de medos e tormentos na sociedade. Por isso devesse também colocar a educação a favor do conhecimento, levando o indivíduo ao questionar-se constante, ao duvidar buscando respostas, e respostas que não sejam produzidas pelo outro, pelos valores e "verdades" em que acredita. Assim podemos rever as novas idéias e teorias não lhes destinando um lugar dentro das já conhecidas e aceitas.


5. A incerteza do conhecimento: Levando em conta as variantes da condição humana, de origem "bioantropológicas", "socioculturais" e "noológicas", devemos buscar um ponto de encontro entre idéias e mito, de modo a "civilizar nossas teorias", tornando-as mais "abertas, racionais, críticas, reflexivas, autocríticas, aptas a se auto-reformar". Morin lembra que em nome de erros e ilusões ocorreram as grandes tragédias humanas, em especial no século XX. Finaliza conclamando a se buscar uma "educação (que) consiga armar cada um para o combate vital em direção à lucidez!".


Esse é o olhar da diversidade, que procura perceber as razões e motivos dos que pensam e agem de maneira diferente. Temos que nos conscientizar dessa trajetória para que erros e ilusões sejam amenizados e melhor compreendidos para que as próximas gerações saibam se colocar diante de sua formação. E, além disso, para que o planeta não fique submisso a uma ideologia incontestável, isto é, para que não continuemos sendo títeres do erro e da ilusão. Segundo o autor isto só se torna possível, quando por meio da educação damos espaços as incertezas, pois estas são capazes de nos levar a abandonarmos as idéias simplistas e buscarmos novos pontos de vistas, mais complexos.
Texto elaborado por alunos de Pedagogia UAB- UFSCar para a disciplina CEDSI - Pe

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