domingo, 14 de junho de 2009

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO - Edgar Morin


CAPÍTULO II: OS PRINCÍPIOS DO CONHECIMENTO PERTINENTE
1. Da Pertinência do Conhecimento



Aqui Morin aborda inicialmente a questão de se promover o conhecimento que vincule entre as partes e o todo, compreendendo que um é pertinente ao outro e que se integram e se complementam.


O autor sugere que a educação consiga perfazer caminhos que conduzam aos conhecimentos globais e fundamentais e, consequentemente, conhecimentos parciais e locais, ou seja, os excertos não incorrem em conhecimento propriamente dito. É imprescindível "ligar as partes" e então globalizá-las para a compreensão e assimilação ensinado.
Morin critica o ensino por disciplinas, fragmentado e dividido, acaba por dificultar a capacidade natural que o espírito tem de contextualizar o conhecimento. Esta capacidade deve ser estimulada e desenvolvida pelo ensino, possibilitando ao aluno ligar as partes ao todo e o todo às partes.


O autor nos lembra, vagamente, a proposta de Comênius de "ensinar tudo a todos", entendendo que "o conhecer" se completa com o "reconhecer" e que o ser humano necessita disso para viver. Sobre isso ele se comunica de forma parafraseada, expressando que: "O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital." (Morin, 2000 p. 35).
Para tanto, Morin propõe a reconstrução do pensamento de forma a elaborar o conhecimento eficientemente. Aliás, essa atitude deve estar aliada à visualização do contexto, do global, do multidimensional e do complexo pela educação em prol da organização do conhecimento.
1.1 O Contexto: Apenas informações e dados isolados não se constituem como conhecimento cognitivos, é necessário realizar a contextualização destas por intermédio de um ensino interdisciplinar. Assim, ao analisar o contexto, obteremos o real sentido que a informação tem por objetivo nos apresentar, visto que conhecer é ser capaz de relacionar o agora com o conhecimento já adquirido, nosso conhecimento de mundo.


1.2 O global (as relações entre o todo e as partes): "O planeta Terra é mais do que um contexto: é ao mesmo tempo organizador e desorganizador de que fazemos parte" (Morin, 2000). A ordem e a desordem são inseparáveis quando associadas à organização. Alcançar a complexidade é enxergar de forma binocular através do pensamento. Não se deve privilegiar o particular nem o todo, ambos são importantes. A finalidade é que se conjuguem a fim de organizar o conhecimento. As partes devem ser trabalhadas pensando-se globalmente, de modo multidimensional. Morin ressalta o francês Pascal, que já no século XVII, que não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes. Todos nós, carregamos o particular e o todo, e só fazemos sentido dessa maneira. Compreender o que esta a nossa volta é dar voz a estas duas instâncias.


1.3 O multidimensional: O multidimensional é visto por Morin como imprescindível para o conhecimento pertinente, pois, as partes não podem ser dissociadas e tampouco isolarem-se do todo. Sobre isso ele exemplifica que "(...) o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional. A sociedade comporta as dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosa... (...)" (MORIN, 2000, p. 38), deixando subentendido que as conjunturas e os contextos do conhecimento devem estar em plena organicidade e sistematização.
1.4 O complexo: Complexus significa "tecido junto". No texto o complexo constitui-se nas tramas entre as partes que formam o todo. Assim, para Morin, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. Dessa maneira, espera-se da Educação, promover e desenvolver a "inteligência geral", apta a compreender a abrangência, a extensão e a multidimensionalidade do todo. Ao ser capaz de conjugar estas duas instâncias o homem se tornará capaz de utilizar seus avanços hisóricos não produzindo catástrofes.


2. A Inteligência Geral: "A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral" (MORIN, 2000, p.39). Pois, quanto mais desenvolvida a “inteligência geral”, capaz de compreender o todo em sua complexidade, mais será eficaz a percepção e solução dos problemas “especiais”, em suas especificidades. Usando as palavras de François Recanati, “(...) a compreensão dos enunciados é um processo não-modular de interpretação que mobiliza a inteligência geral e faz amplo apelo ao conhecimento de mundo”. A inteligência geral favorece a superação das “antinomias” e a identificação da “falsa racionalidade”.
2.1 A antinomia: A antinomia é uma forma de visão unilateral e limitadora. É uma exacerbação do conceito de especialização, que faz romper as ligações entre um determinado conhecimento e sua relevância social, gerando o “enfraquecimento da responsabilidade” e da “solidariedade”.


3. Os Problemas Essenciais
3.1 Disjunção e especialização fechada: A hiper-especialização é a ruptura do conhecimento com seu contexto. Essa fragmentação reduz as possibilidades de leitura das situações em sua complexidade. Quanto maior a especialização em um determinado campo, maior o empobrecimento de outra área. Passa-se a dominar um conhecimento específico, mas torna-se impossível relacioná-lo a outra área para resolver um problema humano.


3.2 Redução e disjunção: A redução consiste em se "restringir o complexo ao simples", desconsiderando o quanto uma situação, por mais simples que pareça, possui muitas facetas e pontos sobre os quais pode se incidir o olhar. O saber é complexo por natureza e sua compartimentação atrofia uma capacidade mental "natural de contextualizar e globalizar". Mais uma vez, a educação é chamada a abrir as portas ao "conhecimento planetário". A inteligência "cega", ou seja, aquela aplicada em conhecer apenas um fragmento de um amplo contexto, limita as pessoas que perdem a noção do todo, barra a reflexão, impede a compreensão e, conseqüentemente, não se sentem responsáveis pelo plano global.


3.3 A falsa racionalidade: A falsa racionalidade é produto da "cegueira" produzida pela visão unilateral. O século XX, apesar dos indiscutíveis avanços tecnológicos alcançados, produziu junto com esses conhecimentos novas cegueiras e, conseqüentemente, erros e ilusões. Justamente por se perceber as situações parcialmente, desconsiderando os impactos negativos provenientes dessas mudanças, ou mesmo deixando de prever os consequentes desastres sociais. Em nome da racionalidade científica, cometeram-se erros irreparáveis à humanidade. O século XX foi pródigo nestes erros que, certamente, trarão conseqüências que ultrapassarão gerações. O homem tornou-se incapaz de usar sua racionalidade para impedir que problemas advindos do suas conquistas tecnológicas pudessem prejudicá-lo, causando situações inimagináveis para a humanidade.

Resumo produzido por alunos do curso de Pedagogia - USB- UFSCar para CDSI- PE

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO



TEXTO SÍNTESE "OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO"
(Edgar Morin)



CAPÍTULO I: AS CEGUEIRAS DO CONHECIMENTO: O ERRO E A ILUSÃO


Segundo Morin, a educação, de um modo geral, ainda está pautada no modelo de transmissão de conhecimentos que pressupõe a infalibilidade desses conhecimentos. Ele observa que, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, na verdade, o conhecimento. Sob essa ótica o erro é pouco aceito e se torna uma espécie de ameaça à estabilidade dos conceitos. No entanto, sabemos que todo o conhecimento é colocado em xeque pela construção diária do saber.
Nós, seres racionais, vivemos construindo, reconstruindo e desconstruindo o conhecimento. Modificamo-nos através dele, principalmente por nos utilizarmos do afeto como forma de expressão que se vincula ao saber. A certeza de ontem, pode ser a dúvida de hoje. O que configura o "erro" como um processo de aprendizado.
A ilusão sobre o conhecimento também é apontada pelo autor quando ele pressupõe que o conhecimento e seus mecanismos humanos são propostos para "enfrentar os riscos permanentes do erro e da ilusão" os quais "parasitam" a mente humana. Subestimar o problema do erro e da ilusão constitui-se em um maior erro e na maior ilusão.
Diante disso, não podemos ficar à margem do receio, que se revela ameaçado pelo erro e pela ilusão. O conhecimento “é o fruto de uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte, está sujeito ao erro”.


1. O calcanhar de Aquiles do conhecimento: O autor, a partir dessa metáfora, expõe as fragilidades dos processos através dos quais se faz a construção do conhecimento humano que é em todo o tempo ameaçado pelo erro e pela ilusão: os ruídos, ou seja, quaisquer eventos que possam prejudicar a transmissão da informação, seja qual for o canal utilizado para que seja transmitida; som e imagem; a tradução que cada um faz individualmente dos estímulos que recebe; a transmissão através da fala, que é uma representação de um fato e não o fato em si, e, por fim, a questão da afetividade, que pode interferir no processo de apreensão do conhecimento, seja de uma forma positiva ou negativa, "estimulando-o" ou "asfixiando-o", respectivamente. Dessa maneira, a educação deve-se dedicar à identificação da origem de erros, ilusões e cegueiras.


1.1 Os erros mentais: São considerados erros mentais, a presença do "eu", do indivíduo na formação da concepção do mundo exterior. Cada mente tem suas particularidades e dispositivos para a seleção que servem para o indivíduo formar a sua realidade, a partir das informações selecionadas, criando verdades particulares, selecionando as lembranças, de acordo com a narrativa de vida que pretende criar.
Essas variantes decorrem da dificuldade de diferenciar de forma precisa, o real do imaginário, a prevalência do mundo interior em detrimento do exterior, o mecanismo de "self deception", que cria uma realidade paralela como forma de autojustificativa e a memória que apresenta um processo de seleção ou criação de fatos. Aliás, a mente preserva recordações e, até mesmo pseudo-lembranças, de acordo com a sua conveniência, posto que isso promove o erro e as ilusões, os quais criam o caos sobre as reais verdades.


1.2 Os erros intelectuais: Os erros intelectuais são aqueles que estão relacionados à organização das idéias. O indivíduo resiste às idéias que façam oposição ao seu corpus ideológico. Inconscientemente seleciona lembranças que lhe convém.
1.3 Os erros da razão: Segundo o autor, "A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão". Há dois tipos de racionalidade; a construtiva, que deve estar aberta ao que questiona, e a crítica, esta deve ser centrada em observar criticamente os erros e ilusões das crenças, doutrinas e teorias.


Dentro da racionalidade, pode haver também o espaço do erro e da ilusão, quando se "perverte" em racionalização, que é fechada em si própria, por se supor incontestável. A racionalidade é aberta e flexível.


1.4 As cegueiras paradigmáticas: Um paradigma pode ser estabelecido através de um "conceito mestre de inteligibilidade", ou seja, a idéia a partir da qual todas as "operações lógicas-mestras" se articulam na formação do paradigma. Essas operações funcionam como mecanismos de: exclusão-inclusão, disjunção-conjunção, implicação-negação.
Pode-se entender que um indivíduo, ao estabelecer contato com o mundo, o faz através dos paradigmas já internalizados. Um paradigma pode tanto "elucidar", instigar a busca por experimentações, a práticas, quanto "cegar", isto é, não deixar o indivíduo ver além de tal paradigma. Muitos desses paradigmas nos permitem ter uma visão dupla de mundo, um conhecimento fragmentado, separando mente do corpo, o que privilegia o pensamento racional, o conhecimento científico, em detrimento de outros não menos importantes, como o pensamento intuitivo.


2. O imprinting e a normalização: A obediência incontestável aos paradigmas pode promover uma acomodação que anula todo o poder de contestação, de forma que as pessoas deixem de exercer o direito de contestar e até a habilidade e fazê-lo. A esse processo, Morin chama de "conformismo cognitivo", que é pior que o conformismo. O termo "imprinting cultural", criado por Konrad Lorenz, explica como esse tipo de conformismo pernicioso ganha raízes nos indivíduos, impossibilitando-os de reagir diante dos fatos contra os quais deveriam reagir. Essa impossibilidade gerada culturalmente é a normalização, ou seja, a aceitação inconteste das situações. Nesta situação cabe ao homem seguir a verdade, fugindo do conformismo, incansavelmente.


3. A noologia: possessão: Noologia é o estudo da esfera das coisas do espírito. Segundo Morin, o homem, desde os primórdios tem sido dominado pelos mitos ligados a deuses e seres espirituais. A noosfera, um produto da junção alma-mente, é vinculada ao ser humano. A esse universo está ligado o mundo das idéias, que podem tornar-se consistentes e reais.
Usando as palavras de Morin "As sociedades domesticam os indivíduos por meio de mitos e idéias, mas os indivíduos poderiam, reciprocamente, domesticar as idéias, ao mesmo tempo em que poderiam controlar a sociedade que os controla." Esse excerto é um convite à racionalidade, à análise dos mecanismos de controle social e humano, que pode conferir ao ser humano uma posição mais ativa perante a sociedade, descartando conceitos infundados e não se tornando escravos das idéias, mas interagindo criticamente em relação a elas.É necessário segundo o autor que as idéias sejam domesticadas e relativizadas, para que tenhamos a idealidade e não o idealismo.


4. O inesperado: O fator inesperado é uma constante na vida do homem, mas devido ao apego que temos em relação às nossas crenças e idéias nos torna incapazes de lidar com situações diferentes, que nos desestruturam, justamente por termos paradigmas inflexíveis que não se moldam, mas se quebram. Sair da rotina é motivo de pânico, visto que o novo é sempre a causa de medos e tormentos na sociedade. Por isso devesse também colocar a educação a favor do conhecimento, levando o indivíduo ao questionar-se constante, ao duvidar buscando respostas, e respostas que não sejam produzidas pelo outro, pelos valores e "verdades" em que acredita. Assim podemos rever as novas idéias e teorias não lhes destinando um lugar dentro das já conhecidas e aceitas.


5. A incerteza do conhecimento: Levando em conta as variantes da condição humana, de origem "bioantropológicas", "socioculturais" e "noológicas", devemos buscar um ponto de encontro entre idéias e mito, de modo a "civilizar nossas teorias", tornando-as mais "abertas, racionais, críticas, reflexivas, autocríticas, aptas a se auto-reformar". Morin lembra que em nome de erros e ilusões ocorreram as grandes tragédias humanas, em especial no século XX. Finaliza conclamando a se buscar uma "educação (que) consiga armar cada um para o combate vital em direção à lucidez!".


Esse é o olhar da diversidade, que procura perceber as razões e motivos dos que pensam e agem de maneira diferente. Temos que nos conscientizar dessa trajetória para que erros e ilusões sejam amenizados e melhor compreendidos para que as próximas gerações saibam se colocar diante de sua formação. E, além disso, para que o planeta não fique submisso a uma ideologia incontestável, isto é, para que não continuemos sendo títeres do erro e da ilusão. Segundo o autor isto só se torna possível, quando por meio da educação damos espaços as incertezas, pois estas são capazes de nos levar a abandonarmos as idéias simplistas e buscarmos novos pontos de vistas, mais complexos.
Texto elaborado por alunos de Pedagogia UAB- UFSCar para a disciplina CEDSI - Pe