sábado, 20 de março de 2010

PROJETO TCHAU




Professora Deborah Adriana Tonini Martini Cesar

PÚBLICO-ALVO

5ª e 6ª do Ensino Fundamental

MATERIAL
I                                Conto Tchau de Lygia Bojunga
I                                Música: Eu Sei que Vou te Amar de Vinícius de Moraes
I                                Conto: O Amor Acaba de Paulo Mendes Campos
I                                Soneto

ANTES DA LEITURA
Ouvir a música e iniciar um diálogo partindo da seguinte questão: O amor pode ser eterno?

LEITURA
Soneto de Fidelidade de Vinícius de Moraes

QUESTIONAMENTO
I                                Que idéia o autor tem em relação ao conceito de eternidade do amor?
I                                Você concorda com ele?

LEITURA
Ler o conto o amor acaba de Paulo Mendes Campos

QUESTIONAMENTO
I                                É assim tão fácil de o amor acabar?
I                                Ler o texto bíblico em Coríntios 13:4 ao 8a sobre o amor
I                                Com base nesse texto reflita: Se o relacionamento acabou, era amor verdadeiro?


Peculiaridades quanto à leitura do conto Tchau

            O conto Tchau tem o poder de mover os sentimentos, causar reações. Todas as vezes que li Tchau, de Lygia Bojunga para os meus alunos , li-o por inteiro, sem tecer comentários durante a leitura, nem para esclarecimento de vocabulário mesmo porque a linguagem é bastante coloquial. Os alunos ficaram muito quietos, atentos ao desenrolar da narrativa. Evitei criar muitas antecipações para não dissolver o impacto final, embora o título já diga tudo.

            Essa leitura sem interrupções, favoreceu a concentração e em decorrência, o fluir das emoções. Era exatamente o que eu desejava, para poder trabalhar bem as emoções.
Alguns fatos chamaram minha atenção. Na 5ª série, ao final do conto, um aluno chorou, dizendo que era muito triste aquela situação. Os outros, comovidos, escondiam a vermelhidão dos olhos e disfarçavam o embargo na voz. Nessa mesma classe uma menina disse que sua mãe havia abandonado a família, no entanto, seu pai tem sido competente a tarefa de cuidar dos filhos. A menina, realmente, além de ser ótima aluna, anda sempre bem cuidada e arrumada.

            Na 6ª série, quando eu lia a parte em que o pai discute com a mãe dizendo-lhe que escolhesse com quem desejava ficar, com os filhos ou com o amante, uma garota quebra o silêncio da sala declarando em alta voz que se fosse lê, ficaria com os filhos e jamais os abandonaria. Essa jovenzinha, bastante esperta, certamente já havia antecipado o fim triste e falava tanto que parecia querer interromper a trajetória do conto. Os colegas, impacientes, lhe disseram que ficasse quieta pois queriam ouvir  o restante da história. Quando eu terminei de contar, ela veio secretamente me confidenciar que havia acontecido algo semelhante em sua casa, só que foi o pai que tentara abandonar a família, mas no final, deu tudo certo.

            Após a leitura, comentamos as questões propostas pelo conferencista a respeito do conto, propostas na VC:

  • Características especulares do conto: sentimentos opostos: a alegria da mãe em face ao novo relacionamento em contraposição à tristeza sentida pelo restante da família. As figuras fortes da mãe e da filha se contrapõem e interagem como se estivessem diante de um espelho. Pedi aos alunos que encontrassem no texto ou procurassem se lembrar dessas cenas. Ex.: A mãe puxa a mala e a filha também puxa. A inversão dos papéis. A filha assume o papel dos pais, aconselhando-os e protegendo-os.
  • Também observamos a frustração que é marcada até no nome dos filhos. Rebeca significa “a que une”, mas ela não consegue manter o casamento dos pais. Donatello “presentinho”, o filho menor, é abandonado. Um presente desprezado.
  • Por que só aparecem os nomes dos filhos? Os alunos acharam que como a perspectiva é a de rebeca, predominantemente, justifica-se porque geralmente, os filhos não chamam seus pais pelos nomes.
  • Pedi para que identificassem as marcações de espaço, tanto no conto Tchau, como no  conto O Amor Acaba e os acharam em abundância;
  • As marcações de tempo também foram identificadas nos dois contos.
  • Observamos a linguagem coloquial e os recursos gráficos como o uso de reticências, com freqüência indicando a suspensão do pensamento ou a fala entrecortada pelo cansaço e a emoção, bem como o uso das onomatopéias enriquecendo muito o texto.

O interessante foi que os alunos, talvez por terem prestado muita atenção à história, identificaram muito facilmente os aspectos abordados, exemplificando e argumentando com grande propriedade. Posso dizer que, até o momento, esse foi o projeto mais proveitoso ao meu ver, no sentido de obter uma participação maciça dos alunos.

Como atividade final desenvolvemos um novo final para a história, podendo ele ser feliz ou triste, conforme desejasse o aluno.




Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes


           Eu sei que vou te amar



Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em  cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente...eu sei que vou te amar,
E  cada verso meu será
Pra te dizer, que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida  ...




 


Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou...

 



 


Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida...

 




 

Autor: Vinicius de Morais (texto)
Tom Jobim (melodia)

PROJETO DE LEITURA - O CÃO DOS BASKERVILLE


E.E.LEONICE DE AQUINO OLIVEIRA

PROJETO DE LEITURA
PROFª DEBORAH ADRIANA TONINI MARTINI CESAR
  

PROJETO O CÃO DOS BASKERVILLE de SIR ARTHUR CONAN DOYLE
Por profª Deborah Adriana Tonini Martini Cesar

AULAS 1 A 3

DIVIDIR A SALA EM GRUPOS E PASSAR UMA ATIVIDADE PARA CADA GRUPO QUE DEVERÁ EXPLICAR PARA O RESTANTE DA SALA EM FORMA DE SEMINÁRIO:

O     Grupo 1- Deverá, com a ajuda do professor fazer um levantamento das características do gênero textual em questão, a saber,romance policial e de mistério.
O     Grupo 2- Deverá fazer um levantamento das histórias do gênero policial que já leram, de preferência escolhendo um deles para fazer uma breve exposição ao restante da sala. Que filmes ou seriados policiais ou de mistério assistiram? Gostam de Arquivo X, CSI?
O     Grupo 3- Através do título e da ilustração da capa da obra, deverão tentar deduzir seu conteúdo.
O     Grupo 4- Deverá observar os hipertextos (notas de página que, apesar de pertencerem à obra, ajudam a explica-la) que o livro contém, destacando os que acharam mais interessantes e relevantes para a compreensão da história.
O     Grupos 5 ao 7- Deverão comparar diferentes versões com o texto apresentado no livro PNLD. Deverão também fazer uma breve pesquisa sobre o que é uma adaptação.

AULAS 4 A 6

I      Fazer leitura compartilhada dos capítulos 1 e 2
I      Reconstruir a história oralmente após a leitura de forma coletiva;
I      Caso a turma não conseguir recontar fielmente a história, utilizar a trama para a reconstrução;
I      Traçar em grupos o perfil psicológico e físico de Sherlock Holmes;
I      Em círculo os alunos deverão lançar hipóteses sobre a continuação da história;
I      Em duplas, reescrever a história até o ponto em que chegaram.

AULAS 7 E 8

Iniciar a aula com a dinâmica “Desvendando o Crime”, que funciona da seguinte maneira: Dois alunos, que serão os detetives, deverão sair da sala, informados de que o restante da sala criará uma história de crime e mistério, a qual deverá ser desvendada por eles através de perguntas. Eles deverão obter o maior número possível de pistas como: onde aconteceu o crime; a que horas aconteceu; quem foi a vítima; Qual era o sexo e a idade do  criminoso; a que horas aconteceu o crime;qual foi a arma usada no delito; se houve morte,qual foi o motivo, o que aconteceu no final, etc. No entanto, os detetives só obterão as respostas SIM ou NÃO para as perguntas que fizerem e as pistas obtidas deverão ser escritas na lousa.
A graça dessa dinâmica está justamente no fato de que o grupo que ficar na sala não estará, na verdade, criando história alguma, mas suas respostas estarão vinculadas ao seguinte mecanismo: Toda vez que a pergunta terminar com uma CONSOANTE, a  resposta será NÃO,e toda vez que terminar com uma vogal, será SIM.
Exemplo:
_O crime aconteceu na praça?
_ SIM!!!
_ Foi ontem?
_ Não!!!
_ A vítima foi um velho?
_ SIM!!!
_ Foi à noite?
_ SIM!!
_ Acertei na mosca. Estou ficando bom nisso!
_ O criminoso era um homem?
_ NÃO !!!
_ Era uma mulher?
_ NÃO!!!
_ Xi!!! Então foi uma criança?
_ SIM!!!!
_ Que horror!!! Era aluno desta escola?
E assim continua o trabalho dos detetives, até que completem todos os requisitos de sua investigação dando-a por encerrada, chegando inclusive a nomes e detalhes. Já com os dados anotados na lousa, parabeniza-se primeiramente os detetives por sua grande facilidade de lançar hipóteses e a seguir explica-se a dinâmica para eles. Em seguida, a sala dividida em grupos 5 ou 6 componentes reconstruirá a história inventada coletivamente por escrito, usando todos os dados possíveis.Um dos grupos montados será sorteado para sair da sala para ensaiar uma reconstituição do crime. Os detetives descansam nessa etapa e depois escolherão a melhor renarração do crime desvendado e verificarão a fidelidade da reconstituição encenada.



 AULAS 9 E 10
Faz-se uma leitura responsiva, ou seja, o professor lê uma parte e abandona o turno, que deverá ser tomado por outro aluno que lerá um outro trecho. O professor retoma o turno e o deixa para que outro aluno continue. Segue-se a dinâmica durante a leitura dos capítulos de 3 a 5.
Pede-se aos alunos que lancem hipóteses para desvendar os seguintes fatos:
'         Por que Sr. Stapleton ficou tão furioso quando viu sir Henry corteja-la (paquerar)?
'         Quem é o homem que aparece segurando uma vela em meio à charneca? E quem é o homem que surge sobre o penhasco?

Pedir aos alunos que, renarrem a história oferecendo-lhes previamente a trama da história que deverá ser entregue antes da leitura do conto, a saber: a seqüência foi completada para facilitar o que se pede.
Resumo capítulos 3 ao 5
No dia marcado, sir Henry Baskerville,dr Mortimer e Dr. Watson.... partiram para Devonshire  rumo à mansão dos Baskerville.
À medida em que avançavam a estrada..... se tornava mais e mais deserta.
Enfim chegaram à...Mansão dos Baskerville.
Vieram receber-lhes....Sr e Sra Barrymoore, os mordomos da mansão que lhes acomodou devidamente.
Durante a noite, Dr. Watson ouviu...o choro de uma mulher
Sr. Stapleton convida Sir Henry a passear pela charneca e ir....até sua casa para conhecer sua irmã.
No caminho...Sir Henry vê um pônei desaparecer no atoleiro de Grimpen Mire e ouve um longo gemido que ecoou pela charneca que, segundo os camponeses era o Cão dos Baskerville chamando sua presa.

Chegando na casa de Sr. Stapleton, conversam sobre...a lenda dos Baskerville
Dr. Watson  envia.....relatório a Mr. Sherlock Holmes
Ele havia visto sir Henry cortejar a irmã de Sr. Stapleton, mas...ela o repeliu e seu irmão agiu estranhamente
Dr. Watson também descobriu que havia um homem...segurando uma vela em meio à charneca.
Ele era ... o criminoso Selden, irmão da sra. Barrymoore
A mulher que chorava era... Sra. Barrymore
Percebendo que era um sinal, Dr Watson...partiu juntamente com Sir Henry em seu encalço.
Quando estavam na charneca, Sir Henry e Dr. Watson encontraram...um homem de rosto bestial que fugiu deles rapidamente.
Além do estranho homem, viram sobre o penhasco... a silhueta de outro homem, porém mais alto do que Selden.
Conversando com o mordomo Barrymore, Dr Watson fica sabendo que o tio de Henry Baskerville antes de ir rumo ao portão da charneca antes de sua morte havia recebido... uma carta de uma mulher com quem iria encontrar-se.

Depois de preenchidas as informações em duplas, são comparadas as respostas.


Aulas de 10 a 12


Retomar as hipóteses lançadas sobre as perguntas feitas anteriormente.
Leitura compartilhada dos capítulos 6 ao 9. Pequenas pausas devem ser feitas para confirmar  ou descartar as hipóteses feitas pelos alunos. Durante a leitura os alunos deverão ir anotando os pontos mais relevantes da história Após a leitura renarrar oralmente os capítulos lidos por toda a sala, executar as seguintes avaliações:
Em duplas:Um resumo do livro usando, no máximo uma página, baseando-se nas anotações feitas durante todo o processo de leitura.
Individual:Uma avaliação da obra e dos procedimentos didáticos empregados para organizar a leitura, utilizando o formulário abaixo.


AVALIAÇÃO DO PROJETO DE LEITURA SOBRE O LIVRO O CÃO DOS BASKERVILLE


QUANTO AO LIVRO:
MATERIAL: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
ILUSTRAÇÕES: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
LETRAS: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
HISTÓRIA: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
JUSTIFIQUE OS PONTOS QUE VOCÊ CONSIDEROU REGULAR OU FRACO:




QUANTO AOS PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS:
ATIVIDADES EM GRUPO: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
RENARRAÇÃO DA HISTÓRIA FEITA ORALMENTE: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
RENARRAÇÃO FEITA POR ESCRITO: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
REESCRITA DE CAPÍTULOS A PARTIR DA TRAMA: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
DINÂMICA “DESVENDANDO O CRIME”: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
PROPOSTA PARA DESVENDAR O QUE ACONTECERIA NAS PRÓXIMAS LEITURAS. (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
RECONSTITUIÇÃO DO CRIME: (  )ÓTIMO  (  ) BOM  (  ) REGULAR (  ) FRACO
JUSTIFIQUE OS PONTOS QUE VOCÊ CONSIDEROU REGULAR OU FRACO:




SE EU FOSSE PROFESSOR EU MUDARIA NO PROJETO:



DURANTE O PROJETO EU APRENDI OU APERFEIÇOEI:



FIQUEI MAIS INTERESSADO EM LER NARRATIVAS POLICIAIS E DE MISTÉRIO?
(  ) SIM   (  ) NÃO
GOSTARIA DE ASSISTIR UM FILME SOBRE SHERLOCK HOLMES?
(  ) SIM   (  ) NÃO
COMO VOCÊ AVALIA SUA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO:
(  ) ÓTIMA  (  ) BOA  (  ) REGULAR (  )FRACA

Projeto desenvolvido e aplicado em 2005

terça-feira, 16 de março de 2010

PROJETO RECORDO

Mundo de Deborah

TECENDO LEITURAS

ABRIL/2005

Recordo
PROJETO DESENVOLVIDO POR:
Profª Deborah Adriana Tonini Martini Cesar
Bacharel em Língua Portuguesa e Italiana- USP
Licenciada em Língua Portuguesa –USP
E.E. LEONICE DE AQUINO OLIVEIRA
Embu Guaçu - SP


E.E.Leonice de Aquino Oliveira
PROJETO RECORDO
Profª Deborah Adriana Tonini Martini Cesar

INTRODUÇÃO

Esse projeto teve por elemento desencadeador o poema RECORDO AINDA do poeta Mário Quintana, que trata o tema da velhice de uma forma bem interessante, aproximando-a da idade jovem no que diz respeito aos seus anseios. A partir desse tema, montei uma antologia de poetas brasileiros que tratam o mesmo tema, sob óticas bastante semelhantes. A questão do tempo também é tratada.
Costuma-se dizer que, atualmente um indivíduo de quarenta anos já é velho, com dificuldades até para conseguir encaixar-se no mercado de trabalho.Mas segundo essa breve pesquisa feita, essa questão é o reflexo de uma convenção cultural já bastante antiga. O poema QUARENTA ANOS de Mário de Andrade marca essa idade como o início da velhice.
Além de ser um incentivo à leitura, o projeto visa promover uma reflexão sobre o que é ser um velho na sociedade brasileira. Quem pode ser considerado velho na realidade? O que um indivíduo avançado em anos (um macróbio, como dizem Vinícius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade) pode desempenhar na sociedade em que estão inseridos. Um dos textos da antologia, o único em prosa, A ARTE DE SER VELHO de Vinícius de Moraes retrata de forma interessante as diferentes visões em relação ao idoso nacional e de outros países.
Além da questão filosófica, o trabalho abrange de forma bastante diluída alguns  tópicos da teoria literária, a saber: forma, rima, figuras, estrofe, métrica e mais.

MATERIAL UTILIZADO

Como neste ano deu-se prioridade à reposição dos livros didáticos, os módulos de livros paradidáticos não foram solicitados, portanto provavelmente não o receberemos. Assim sendo, preparei uma antologia utilizando transparências para retroprojetor que permitem expor o material para diversas turmas, proporcionando maior praticidade.

TEXTOS E POEMAS QUE COMPÕEM A ANTOLOGIA

  •       Recordo Ainda de Mário Quintana
  •      O Tempo é Um Fio de Henriqueta Lisboa
  •        O Circo o Menino a Vida de Mário Quintana
  •       Retrato de Cecília Meireles
  •        Envelhecer de Mario Quintana
  •        Versos de Natal de Manuel Bandeira
  •       O Tempo de Mario Quintana
  •      Quarenta anos de Mario de Andrade
  •     O Relógio de Vinícius de Moraes
  •       A Arte de ser Velho de Vinícius de Moraes
  •        Carta de Carlos Drummond de Andrade

PÚBLICO ALVO
5ª e 6ª série do Ensino Fundamental

DESENVOLVIMENTO PASSO A PASSO
Total de aulas:10
1ª etapa: Duração 2 aulas
Poemas:
Recordo Ainda de Mário Quintana
Versos de Natal de Manuel Bandeira
O Circo O Menino A vida de Mario Quintana

A) Iniciar a aula perguntando aos alunos:
1)     O que é para eles uma pessoa velha.
2)     Se alguma vez já se imaginaram velhos.
3)     Se alguém tem medo da velhice e por quê.
4)     Se alguém gostaria de descrever oralmente uma pessoa idosa que conheça em sua aparência e atitudes.
5)     Se alguém tem amizade com uma pessoa idosa e sobre o que conversam.
B)A partir das idéias lançadas no diálogo, pode-se se lançar um mini-debate com alguém anotando os assuntos abordados. Quando o tema parecer esgotado, os alunos são surpreendidos com a declamação do poema Recordo Ainda de Mário Quintana utilizando-se um fantoche de espuma com a aparência de um velhinho.
C) O poema é colocado no retroprojetor para que todos os alunos possam ler, esclarecer alguma dúvida quanto ao vocabulário, de preferência através da inferência de significado.
D) Perguntar aos alunos se já haviam pensado num velho como uma pessoa que, na verdade, pode ter seu espírito bastante jovem.
E) Identificar a forma do soneto
F) Distinguir o padrão de rima.
G) Um aluno declama o poema Versos de Natal de Manuel Bandeira também utilizando o velhinho fantoche.
H) Expõe-se a transparência com o poema e pergunta-se aos alunos:
1)     Se há semelhanças entre os poemas, quais?
2)     Há semelhanças quanto à forma?
3)     O poema apresenta rimas?
4)     Vocês uma pessoa velha pode pensar como a criança ou como o jovem? Por quê?
5)     Apresenta-se o poema O CIRCO O MENINO A VIDA em forma de jogral e através da transparência, pedir aos alunos que verifiquem uma possível semelhança com os outros dois poemas.Perguntar-lhes o que há de comum entre :Circo, Menino e Vida. (O Circo passa pela cidade rapidamente, a infância é um período relativamente curto em relação à totalidade da vida humana e a vida é também considerada curta e fugaz) Discutir esses conceitos. Destacar a diferença das formas e explicar o que são versos livres e brancos.
I) Havendo tempo disponível, os alunos podem anotar em seus cadernos os poemas trabalhados ou um poema de sua preferência para uma futura exposição.
2ª etapa: Duração 2 aulas
poemas:
Carta Carlos Drummond de Andrade
Envelhecer Mário Quintana
Canção Cecília Meireles
1-   Pedir que um aluno leia o poema  Carta Carlos Drummond de Andrade.
2-   Perguntar aos alunos para quem acham que essa carta é endereçada?
3-   O eu lírico contrasta dois momentos diversos de sua vida. Quais são? Ele também contrasta dois tipos de toques diferentes que sua pele recebeu. Quais são? O que pode ser o relevo mencionado na primeira estrofe, no terceiro verso?Induzir os alunos, se necessário, à percepção de que as rugas seriam marcas de uma vida permeada por sofrimentos.
4-   A qual palavra da primeira estrofe está ligado o segundo verso da segunda estrofe? “(...) são golpes, são espinhos; são lembranças(...)”. Pedir aos alunos que a escrevam seqüencialmente, a saber Estes sinais são golpes, são espinhos; são lembranças (da vida).
5-   Explicar aos alunos que o soneto é uma forma poética bastante antiga. Grande parte da antologia é composta por sonetos. O que essa freqüência pode representar. (Utilização de uma forma antiga para representar a velhice)
6-   Envelhecer pode ser doloroso? Quando? Ler o poema Envelhecer de Mario Quintana.(pode ser utilizado o fantoche de espuma do velhinho)
7-   Perguntar aos alunos o que pode significar fazer chá para os fantasmas. Leva-los ao entendimento de que a única companhia do velho era a dos fantasmas. Era um velho solitário.
8-   Por que o poema tem um só quarteto? As poucas palavras podem representar as parcas conversas de um solitário?
9-   E os caminhos que iam e agora só vêm? O que isso pode representar? Tentar levar-lhes à idéia de que uma pessoa jovem pode se locomover facilmente indo em busca do suprimento de suas necessidades e até de companhia. Um velho, já com problemas para andar, fica na dependência de que alguém o visite. Os caminhos só servem para os que vêm.Os poucos livros podem ser representativos de uma memória já prejudicada (poucos livros, poucos registros).
10-                      Perguntar aos alunos se costumam fazer visitas às pessoas mais velhas de sua família. Dão a eles a atenção que precisam? É possível se aprender com as pessoas velhas?Que conversas podem ser agradáveis? Que assuntos podem ser de interesse comum às pessoas de diferentes idades?
11-                      Já viram reportagens sobre asilos? O que lhes pareceu? Já visitaram uma instituição para idosos? (o professor pode organizar uma visita a um asilo, na qual os adolescentes poderão contribuir com sua alegria e até mesmo com agasalhos e alimentos)
PARA CASA: Os alunos deverão entrevistar uma pessoa de 40 anos, perguntando-lhe sobre seu modo de ver a vida, projetos para o futuro, medos, se essa pessoa se sente velha e como ela encara as pessoas bastante idosas, o que essas pessoas podem e devem fazer e outras perguntas feitas a critério dos alunos.Devem trazer fotos de pessoas de 40 anos que achem bonitas, de preferência artistas.
3ª etapa: Duração 2 aulas
Poema:
Quarenta Anos – de Mário de Andrade
Prosa:
A Arte de ser Velho- Carlos Drummond de Andrade
1-   Um aluno entra na sala e declama a poesia Quarenta Anos de Mário de Andrade, sem , porém expor-lhe o título.
2-   Em seguida, apresentar a transparência  com o poema omitindo o título, lendo o poema,
3-   Perguntar aos alunos quantos anos eles acham que tem o eu-lírico do poema.
4-   Depois de haverem feito suas tentativas, mostrar-lhes o título do poema e perguntar-lhes se as idéias das pessoas de quarenta anos entrevistadas se assemelha à  visão apresentada no poema.
5-   Perguntar-lhes o motivo provável do eu-lírico pensar como fosse um velho. Abordar a questão da longevidade no início do século XX e agora.
6-   Mostrar fotos de artistas que têm 40 anos ou mais: Xuxa, Vera Fischer, Tom Cruise e outros  e perguntar aos alunos se eles acham que essas pessoas pensam da mesma forma que a pessoa do poema.
7-   Estudar a forma  e o padrão de rimas
8-   Introduzir noções de métrica
9-   Em seguida, fazer uma leitura conjunta do texto A Arte de Ser Velho de Vinícius de Moraes usando a transparência no retroprojetor e perguntar-lhes se essa visão de velho recatado condiz com as expectativas expostas pelos entrevistados em relação à velhice.
10-                      O texto é preconceituoso?
11-                      Por que acham que a visão em relação ao idoso no exterior pode ser diferente da nossa e o que pode acarretar aos nossos velhos a nossa forma de pensar em relação a eles. Discutir o conceito de inutilidade, da falta de emprego para as pessoas mais velhas e outros problemas que cercam nossos velhos. Peça para alguém contar uma injustiça feita a uma pessoa idosa que tenha presenciado. Exemplos: As lotações não param para os velhos que apresentam a carteira para isenção de pagamento no transporte.
12-                      Havendo tempo disponível, os alunos podem anotar o poema Quarenta Anos.
13-                      PARA CASA: Trazer pedaços de rendas, tecidos, fotos desses materiais.

4ª etapa: Duração 2 aulas
O tempo é um fio- Henriqueta Lisboa
O Tempo – Mário Quintana
1-   Ler utilizando as transparências  os dois poemas e observar que no início de ambos há uma metáfora. Introduzir ou relembrar o conceito.
2-   Colocar a transparência do poema O Tempo de Mário Quintana e pedir aos alunos que identifiquem ao que o tempo é comparado.
3-   Aproveitar a oportunidade para diferenciar a METÁFORA da COMPARAÇÃO.
4-   Introduzir ou relembrar a PROSOPOPÉIA ou PERSONIFICAÇÃO.
5-   O tempo existe de verdade ou só é uma convenção humana? Tempo e horas são a mesma coisa? Como podemos nos tornar escravos do tempo?È prejudicial manter horários muito rígidos? Por quê ?
6-   Por que somente os poetas, os amantes e os bêbados podem, por instantes, escapar do Velho ranzinza?E as crianças que brincam, se importam com o tempo? Por quê?
7-    Colocar a transparência do poema O tempo é um fio de Henriqueta Lisboa e pedir aos alunos que identifiquem ao que o tempo é comparado.
8-   Perguntar se no primeiro verso há uma metáfora ou uma comparação.
9-   Contrastar a forma grotesca do Velho ranzinza a quem o tempo é comparado com a suavidade e delicadeza do fio.É possível imaginar no segundo poema uma pessoa tecendo? Talvez uma velha fazendo tricô?
10-                      Reler a primeira e a quinta estrofe e perguntar aos alunos de que forma o fio do tempo pode escapar? Como e quando perdemos tempo?Descansar é perder tempo?
11-                      Pedir aos alunos que encontrem no poema uma comparação.
12-                       Introduzir o conceito de GRADAÇÃO que há no poema: fio, rendas, franças, malhas e redes. Cada vez mais o fio vai tomando corpo.
13-                      Em que momento o “tecido do tempo” é útil? E quando se torna inútil? O que pode representar essa inutilização do tecido (farrapo jogado à toa)?
14-                       O que pode querer dizer o verso “Mas ainda é tempo!”?
15-                      A delicadeza do poema se rompe justamente nessa frase exclamativa “Mas ainda é tempo!”. Por quê?
16-                       A última estrofe imprime uma vasta e farta movimentação. O que isso pode representar? È possível recuperar o tempo perdido? De que forma?
17-                      Elaborar cartazes nos quais os poemas são copiados, enfeitados e expostos.
14-                      PARA CASA: Trazer de casa recortes de fotos de pessoas jovens e velhas e um espelho pequeno.
5ª etapa: Duração 2 aulas
Retrato- Cecília Meireles
O Relógio- Vinícius de Moraes
1- Iniciar a aula pedindo aos alunos que observem seus rostos atentamente nos espelhos que trouxeram de casa. Diga-lhes que observem o formato do rosto (redondo, oval,quadrado, fino); observem os olhos :São grandes? Pequenos? Amendoados? Escuros? Claros? O que eles expressam? Observem agora os lábios: São finos? Grossos? O que expressam? Pedir aos alunos que desenhem seu rosto em papel sulfite usando apenas metade da folha.
2- Ler para os alunos o poema O Relógio de Vinícius de Moraes, marcando bem o ritmo de relógio que o poema oferece. Em seguida perguntar aos alunos o que esse poema tem a ver com um relógio. Aproveitar a oportunidade para mencionar o recurso da onomatopéia. Perguntar aos alunos qual foi a impressão que tiveram na leitura do poema em relação ao passar do tempo. O tempo passa rápido? Devagar? Ele pára em algum momento de transcorrer? O tempo voa? Quando o tempo parece transcorrer mais depressa e quando o tempo parece demorar passar?
3- Após essa reflexão sobre o tempo, uma aluna deverá entrar vestida e maquiada como uma pessoa muito velha, olhando-se num espelho e declamando o poemaRetrato de Cecília Meireles de uma forma bem teatral.
4- Questionar os alunos o porquê da mulher ter se surpreendido ao ver sua imagem  no espelho? Será que ela não se olhava no espelho há muito tempo? Ou será que foi um momento de reflexão em que ela comparou sua imagem atual àquela de jovem que tinha em lembrança? Vocês têm medo de envelhecer? Por quê? Como vocês acham que ficaria seu rosto quando se tornarem muito velhos? Pedir para que desenhem o rosto imaginado ao lado do rosto atual. É possível ser feliz mesmo sendo bem velho?Por quê? Você faria uma plástica ?O que uma pessoa idosa precisa ter ou fazer para ser feliz? Você tem alguém na família que seja velho? Você o ajuda a ser feliz? De que maneira?
5- Enquanto alguns alunos fazem um cartaz com o poema Retrato de Cecília Meireles utilizando as figuras de pessoas jovens e velhas que trouxeram. Outro grupo monta um painel colando os desenhos que fizeram de seus rostos, dando a esse painel um título criativo. Um terceiro grupo faz uma paródia do poema Retrato de Cecília Meireles mostrando uma idosa menos melancólica, que possa ter feito uso dos recursos que a plástica oferece e que tenha uma vida ativa e que aprecie viver a fase que esta vivendo.
6- Expor o cartaz ,o painel e o poema  produzidos.
Esse projeto para 10 aulas pode ser desenvolvido seqüencialmente, utilizando aulas dobradas ou mesmo em aulas separadas. É importante retomar os poemas em comparação em cada etapa para que haja uma ligação temática. O projeto pode ser utilizado em parte. É importante que no final seja possível ter desenvolvido, além dos conceitos teóricos de análise literária, a concepção de que a velhice pode ter suas desvantagens, mas que uma mudança de comportamento social, familiar e pessoal, podem fazer da velhice uma fase da vida prazerosa, cercada pelo amor dos familiares e mais plena pelo exercício de tarefas de utilidade, não só para o indivíduo, mas desempenhando sua cidadania. É importante também ressaltar que os poetas que compuseram esses poemas, em sua maioria, os escreveram em sua velhice e tinham, portanto, atividade mental intensa, produzindo bens culturais de grande valor para a sociedade.

Segue antologia.
Profª Deborah Adrian Tonini Martini Cesar

  

RECORDO AINDA

Mario Quintana

Para Dyonelio Machado




Recordo ainda... E nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas da noite morta!
 eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada após segui... Mas, ai,
Embora idade senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... Acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente! ...



QUINTANA, M. In: Nariz de Vidro. São Paulo:Moderna,1984 p.35





O CIRCO O MENINO A VIDA
Mario Quintana

A moça do arame
Equilibrando a sombrinha
Era de uma beleza instantânea e fulgurante!
A moça do arame ia deslizando e despindo-se.
Lentamente.
Só para judiar.
E eu com os olhos cada vez mais arregalados
Até parecerem dois pires:
Meu tio dizia:
 “bobo!”
Não sabes
Que elas sempre trazem uma roupa de malha por baixo?
(Naqueles voluptuosos tempos não havia nem maiôs nem biquínis...)
Sim! Mas toda a deliciante angústia dos meus olhos virgens
Segredava-me
Sempre:
“Quem sabe?”

Eu tinha oito anos e sabia esperar.

Agora não sei esperar mais nada
Desta nem da outra vida.
No entanto
O menino
(que não sei como insiste em não morrer em mim)
ainda e sempre
apesar de tudo
apesar de todas as desesperanças,
o menino
às vezes segreda-me baixinho
“Titio, que sabe?...”

Ah, meu Deus, essas crianças!

QUINTANA, M. In: Nariz de Vidro. São Paulo:Moderna,1984 p.7

 


 

RETRATO

Cecília Meireles





Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
_Em que espelho ficou perdida minha face?


MEIRELES, C. Viagem In: Antologia Poética São Paulo:N. Fronteira;2004 PNLD p.18




CANÇÃO

Cecília Meireles



Eras um rosto
na noite larga
de altas insônias
iluminada.

Serás um dia
vago retrato
de quem se diga:
“o antepassado”.

Eras um poema
cujas palavras
cresciam dentre
mistério e lágrimas.

Serás silêncio,
tempo sem rastro,
de esquecimentos
atravessado.

Disso é que sofre
a amargurada
flor da memória
que ao vento fala.


MEIRELES, C. Retrato Natural In: Antologia Poética São Paulo:N. Fronteira;2004 PNLD p.113


A arte de ser velho
Vinícius de Moraes


É curioso como, com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima. Pelo menos entre nós, latinos da América e, sobretudo do Brasil. E talvez seja melhor assim; pois se esse sentimento nos subtrai em vida, no sentido de seu aproveitamento no tempo, evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo, a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures.
Não estou querendo dizer com isso que todos os nossos velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire. Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade. Mas, como coletividade, não há dúvida de que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional (tirante,é claro, a China), embora entreguem mais depressa a rapadura.
Talvez nem seja compostura; talvez seja esse pudor eu falávamos acima, de se mostrarem em sua decadência, misturado ao muito freqüente sentimento de não terem aproveitado os verdes anos como deveriam. Seja como for, aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos. Em lugares públicos não têm sido poucas as vezes em que já surpreendi olhares de velhos para moços que se poderiam traduzir mais ou menos assim: “Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo, porque não demora muito e vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado...”
Isso aqui no Brasil, é fácil sentir nas boates, com exceção de São Paulo, onde alguns cocorocas ainda arriscam seu pezinho na pista, de cara cheia e sem ligar ao enfarte. No Rio é bem menos comum, e no geral, em mesa de velho não senta broto, pois, conforme reza a máxima popular, quem gosta de velho é reumatismo. O que me parece, de certo modo, cruel. Mas, o que se vai fazer? Assim é a mocidade- ínscia, cruel e gulosa em seus apetites. Como aliás, muito bem diz também a sabedoria do povo: homem velho e mulher nova, ou chifre ou cova.
Na Europa, felizmente para a classe, a cantiga soa diferente. Aliás, nos Estados Unidos dá-se de certa forma o mesmo. É verdade que no caso dos Estados Unidos a felicidade dos velhos é conseguida um pouco à base da vigarista; mas na Europa não. Na Europa vêem-se meninas lindas nas boates dançando cheek-to-cheek com verdadeiros macróbios, e de olhinho fechado e tudo. Enquanto que nos Estados Unidos eu creio que seja mais...cheek-to-cheek. Lembro-me que em Paris, no Club St. Florentin, onde eu ia bastante, havia na pista um velhinho sempre com meninas diferentes. O “matusa” enfrentava qualquer parada, do rock ao chá-chá-chá e dançava o fino,, com todos os extravagantes passinhos que os gauleses enfeitam as danças do Caribe, sem falar no nosso samba. Um dia, um rapazinho folgado veio convidar a menina do velhinho para dançar e sabem o que ela disse:_isso mesmo que vocÊs estão pensando e mais toda essa coisa. E enquanto isso, o velhinho, de pé, o peito inchado, pronto para sair na física.
Eu achei a cena uma graça só,mas não sei se teria sentido o mesmo aqui no Brasil, se ela tivesse passado no Sacha’s com algum parente meu. Porque, no fundo, nós queremos os nossos velhinhos em casa, em sua cadeira de balanço, lendo Michel Zevaco ou pensando na morte próxima, como fazia meu avô. Velhinho saliente é muito bom, muito bom, mas de avô dos outros. Nosso, não.

MORAES, V. DE. A Arte de Ser Velho In: Para Viver um Grande Amor- Crônicas e Poemas. São Paulo: Cia das Letras- projeto escola jovem p.65-66.
  
O TEMPO
Mario Quintana


O despertador é um objeto abjeto.
Nele mora o Tempo. O Tempo não pode viver sem nós, para não parar.
E todas as manhãs nos chama freneticamente como um velho paralítico a [tocar a campainha atroz.
Nós
É que vamos empurrando, dia-a-dia, sua cadeira de rodas.
Nós, os seus escravos.
Só os poetas
os amantes
os bêbados
podem fugir
por instantes
ao Velho...Mas que raiva impotente dá no Velho
quando encontra crianças a brincar de roda
e não há outro jeito senão desviar delas sua cadeira de rodas!

Porque elas, simplesmente, o ignoram...

QUINTANA, M. Antologia Poética. Rio de janeiro: Ediouro, 1997.5ed. p83
 
 
ENVELHECER
Mario Quintana

Antes, todos os caminhos iam
Agora todos os caminhos vêm
A casa é acolhedora, os livros poucos.
Eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.



QUINTANA, M. Antologia Poética. Rio de janeiro: Ediouro, 1997.5ed. p34




VERSOS DE NATAL
Manuel Bandeira

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

1939


BANDEIRA, M. Lira dos Cinqüent’anos In: Estrela da Vida Inteira. Rio de
       Janeiro: Nova Fronteira,1993 27 ed. P171

 
O RELÓGIO
Vinícius de Moraes

Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora

Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite

Noite e dia

Tic-tac

Tic-tac

Tic-tac...

MORAES, V de. A Arca de Noé. São Paulo: Círculo do Livro. P41



O TEMPO É UM FIO
Henriqueta Lisboa
O tempo é um fio
Bastante frágil.
Um fio fino
Que à toa escapa.

O tempo é um fio.
Tecei!Tecei!
Rendas de bilro
Com gentileza.
Com mais empenho
Franças espessas.
Malhas e redes
Com mais astúcia.

O tempo é um fio
Que vale muito.

Franças espessas
Carregam frutos.
Malhas e redes
Apanham peixes.

O tempo é um fio
Por entre os dedos.
Escapa o fio, perdeu-se o tempo.

Lá vai o tempo
Como um farrapo
Jogado à toa!

Mas ainda é tempo!

Soltai os potros
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
dormi nas moitas,
voltai com o tempo
que já se foi!!...

LISBOA, H , In: Para Gostar de Ler, v. 6- São Paulo:Ática. P.50



QUARENTA ANOS
Mario de Andrade

A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais si gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar...Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado...Horrendo.

Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fermentida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono,vem!...Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano que amei a vida.


ANDRADE, M. Grão Cão de Outubro. In: Poesias Completas.Belo Horizonte: Villa Rica,1993 p.318


CARTA
Carlos Drummond de Andrade

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha em relevo,
Estes sinais em mim não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos;são lembranças
da vida, a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me faze não é tanto
À hora de dormir quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
A noite acumulada de meus dias,
E sinto que estou vivo, e que não sonho.

ANDRADE, C.D. Literatura comentada.São Paulo: Abril Educação,1980 p. 99