terça-feira, 30 de junho de 2009

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO - EDGAR MORIN


CAPÍTULO III: ENSINAR A CONDIÇÃO HUMANA





A condição humana deverá ser o centro da educação do futuro. Morin entende que os humanos devem reconhecer-se como comuns e, ao mesmo tempo, como seres culturalmente distintos e diversos. Assim, a nossa posição (espacial e temporal) implica em nossa condição de "ser".
O homem é um ser complexo, uma vez que recebeu uma condição fragmentada na educação através das disciplinas. Isso determina uma incapacidade em definir ser humano, assim, a característica de humano se enquadraria como objeto fundamental para ensinar.
1.ENRAIZAMENTO/DESENRAIZAMENTO DO SER HUMANO: Simultaneamente o homem está dentro e fora da natureza, atuando no cosmo físico e na esfera viva, devendo ser reconhecido como ser enraizado biológica e fisicamente e desenraizado psíquica, social e culturalmente.
1.1 A condição cósmica: Reconhecermos como parte da formação do universo e podermos entender que fazemos parte de uma organização universal de explosão, repulsa e atração, isto é, que ao mesmo tempo está sujeita a uma desorganização e a uma ordem. De fato, integramos um todo que interage, que diverge e que disputa entre si por certas circunstâncias. Devemos perceber também que não somos os criadores, mas os criados, assim aprendendo que dependemos do cosmo.
1.2 A condição física: A partes foram se dividindo e formando as mais diversas organizações, de banhos químicos e descargas elétricas que culminaram na vida.
1.3 A condição terrestre: A Terra se auto-transformou e se autoproduziu através da dependência do Sol, somos todos originados de uma mesma matéria cósmica que originou os mais diferentes ambientes que proporcionaram a vida. O homem, como parte do todo, depende da biosfera terrestre. Reconhecer a identidade terrena prevê a percepção do homem integrado ao contexto terreno, reconhecendo-se como parte dele.
1.4 A condição humana: Nós, seres humanos, devemos ser compreendidos a partir de um duplo sentido: o princípio biofísico e o princípio psico-sócio-cultural. Ganhamos características especializadas, como a marcha bipedal durante o processo de hominização, construímos uma complexificação social a partir da linguagem e, embora originários do cosmos e constituídos por substâncias químicas similares e outras idênticas, nos distanciamos da natureza e do Universo pela cultura que ensejamos. Somos racionais e, assim, nos segregamos do mundo físico. Há necessidade de resgatar esse pertencimento e a interdependência do mundo físico e social.
É importante lembrar que o a humanização, ou hominização é um processo ao mesmo tempo contínuo e descontínuo. Contínuo pela estabilidade dos processos de humanização, acima citados como características especializadas e descontínuo pelo surgimento de novas espécies e desaparecimento de outras.
2. O HUMANO DO HUMANO
2.1 Unidualidade: Este conceito compreende o homem como ser plenamente biológico que "depende" da cultura para se desenvolver e realizar-se. A cultura engloba a essência preservada, bem como aquilo que é repassado, o que é compreendido e, ainda, abriga as regras e fundamentos de aquisição.
2.2 O circuito cérebro/mente/cultura: Esta tríade está inter-relacionada na competência do agir, do perceber, do saber e do aprender consciente e pensado culturalmente, ou seja, expressa um vínculo essencial da mente humana que se origina do elo entre o cérebro e a cultura.
2.3 O circuito razão/afeto/pulsão: Estas três instâncias não obedecem à hierarquização e são, além disso, antagônicas e complementares, visto que existem conflitos entre a pulsão, o coração e a razão. Tanto a razão pode sucumbir ao emocional, quanto este pode "justificar-se" pelos impulsos ativos.
2.4 O circuito indivíduo/sociedade/espécie: O indivíduo origina-se da reprodução entre dois indivíduos e a relação que eles constituem vão dando origem a sociedade, ao surgimento da cultura. Concluímos que a sociedade e a cultura proporcionam a origem dos indivíduos, a sociedade e os indivíduos vivem para a espécie e estas interações difundem a cultura, a perpetuação e organização da sociedade. A formação de uma tríade espécie/indivíduo/sociedade que se interagem, se relacionam, resultando no desenvolvimento humano no aspecto das participações individuais, comunitárias que geram o sentimento humano, da apreciação da espécie. Estas interações é que permitem ao homem distinguir-se dos outros seres, tornando-o único, mesmo que parasoxalmente faça parte de um todo marcado em sua constituição primeira.
3. UNITAS MULTIPLEX: UNIDADE E DIVERSIDADE HUMANA - Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade e sua diversidade na unidade.
3.1 A esfera individual: Todo indivíduo carrega características que evidenciam sua unidade/diversidade, pois ao mesmo tempo em que são fundamentalmente comuns, apresentam suas singularidades cerebrais, mentais, psicológicas, afetivas, intelectuais e subjetivas.
3.2 A esfera social: No âmbito social a unidade/diversidade é caracterizada pelo uso da linguagem através das diferentes línguas.
3.3 Diversidade cultural e pluralidade de indivíduos: "O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo". A cultura é fator intrínseco à sociedade humana. Não há sociedade sem cultura. Percebe-se neste âmbito a questão da individualidade, própria do ser humano. Em sociedades diferentes, com diferentes culturas, há ainda a visão de cada indivíduo em relação ao universo em que interage. Como a própria palavra "indivíduo" expressa, não há duas visões idênticas de mundo, ainda que duas pessoas estejam muito próximas em uma mesma cultura.
3.4 Sapiens/demens: O homem no século XXI deixará de ser classificado por sua técnica, seu trabalho e será visto de um modo menos racional. O homem é dotado de paixões, desejos que dominam suas atitudes e refletem no seu exercício social. O homem demens, do delírio, executa seus ímpetos que lhe fazem retomar a vida prática. O misticismo, a magia, a afetividade e os psiquismos influenciam diretamente a conduta humana. O uso da técnica, da racionalidade nunca anulou a crença, o mito e o imaginário humano. O ser humano é complexo na medida em que expressa "traços antagônicos", podendo ser representado como "faber e ludens"; "empiricus e imaginarius"; "economicus e consumans"; "prosaicus e poeticus".
3.5 Homo complexus: Temos de criar consciência que somos ao mesmo tempo lúcidos e loucos e, que não é através da demência que obtemos o caos, este é advindo da própria racionalidade humana, haja vista o desenvolvimento da razão científica e a criação da bomba atômica. Já os progressos da complexidade, como a sabedoria que se deflagra através da arte, filosofia e outras ciências, está repleta da loucura humana.


Síntese elaborada pelos alunos de Pedagogia na wiki transversal H em 2008.

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